Contra-ideias :: crÍtica contemporÂnea 201

CONTRA-IDEIAS :: CRÍTICA CONTEMPORÂNEA
Jaime Da Silva Lopes
O voto da oposição-líder
O líder da oposição não está preparado para assumir, e compensar, as clivagens irremediáveis que seriam as consequências do voto contra o Orçamento Os partidos vocacionados para o poder têm a tentação de não sair dessa 'zona de conforto' que é a participação governativa. Praticar, nem que seja em rascunhos e intenções, as manobras do poder é muito mais atraente que o rasgo A abstenção declarada reforça a natureza do Partido Socialista, ao mesmo tempo que evita a imposição do executivo de direita. Também, vincula a ação ao objetivo de estar preparado para um longo período na oposição. No entanto, participar leva a que se comprometa com as consequências. E esta é a vontade que a direita do PM e do PR quer (ter o melhor poder possível). Se é um bom sinal ajudar a que o país tenha um orçamento melhor, e ter uma oposição construtiva, é também importante (para a própria oposição) que esta não alimente o poder dos Mas, afinal, no Estado atual, nestas circunstâncias parcas, que poder é este? Um poder que não se mantém, porque pouco vigora e nada revigora, não está em condições de lutar ou que muito lutem por ele. Ao Partido Socialista, partido líder da oposição, e partido de poder, resta ajudar o poder, ajudar a manter as suas estruturas frágeis e, portanto, proteger a sua própria justificação para a 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 1 | de 9
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Podíamos aqui relembrar que a política é uma negociação constante. Assim, nesta ótica, o PS negoceia, não vota contra, ajuda o poder a escudar-se da crise. Pensa que a crise vai passar mais depressa que o poder – este poder que fita. A dívida do Euro
As elites assustam-se porque querem deixar entrar o povo na sala. Lá por dentro, alguém percebeu que não faltará muito para entrarem pela janela, e, portanto, abriram a porta da democracia com um referendo na Grécia. Esta, sim, é afinal a grande dívida que a Zona Euro tem para com o seu povo. Podemos racionalizar a questão, mas era dar teoricamente um passo em falso. Porque o contexto por si só é ilógico. Anda por aí um diretório a controlar o povo, evaporando a sua já parca soberania, mas o povo tem a voz intemporal. Este é um breve apontamento sobre a política: e a política faz-se. Com os estados (representantes), e com os povos (sempre por representar). Alienar a voz do povo pode parecer legítimo para quem fala com o dinheiro que lhe emprestam. Mas, ao que parece, a grande arte humana de viver tem sempre uma expressão sem preço. De valor incalculável e invisível aos olhos das taxas de juro. Há quem diga que 'quem convida e desconvida merece a porta da saída'. O governo grego recuou na proposta de referendo. A conclusão do ato, em suma, fica-se por um novo governo, porque as elites já nao confiavam no que estava, e o povo, sentiu-se ofendido por lhe quererem dar a palavra, quando o governo já não tinha mais nenhuma. É o chamado 'toque do representado': passa a 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 2 | de 9
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representar o próprio representante, e isto só acontece quando já O Conselho de Estado
O Presidente da República Cavaco Silva já reuniu o Conselho de Estado várias vezes, desde que exerce funções. Este órgão político de consulta aconselha o Presidente sempre que for solicitado. Pela matéria discutida, e nos contextos específicos, esta solicitude tem o objetivo de reforçar uma certa conduta junto dos partidos políticos. Para tal, o Presidente faz-se acompanhar das importantes individualidades do Conselho. Deste modo, o Conselho está a ser utilizado para reforçar políticas junto do Parlamento, mas também a subentender uma posição geral que implicaria – se fosse atribuída só ao Presidente – interferência na situação partidária. Ora, o contexto atual dá todas as condições ao Governo para executar as suas políticas. Quando, no exemplo do momento, é pedido diálogo e entendimento, e quando o Governo tem a capacidade de execução, estamos a procurar que se melhore o plano a executar, ou que tenhamos o apoio generalizado ao plano (mau ou Todavia, se admitirmos que o plano é um bom plano, retirar potenciais críticas ou impedirmos que se instale a controvérsia, é querer menos debate, A questão eleitoral da crise
2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 3 | de 9
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Acrescento ao texto da questão eleitoral da crise duas ou três linhas que poderão abrir a janela da questão política da crise (onde reside aliás a aproximação à perspetiva originária do texto). 'Doutro modo, ou o governo que sai é maioritário, ou aportaremos num presidencialismo assumido. É preciso saber se o país está preparado para uma evolução na economia, seja em que A verificar-se a persistência da letargia, mais importante é saber se os políticos estão preparados para a tal evolução. Não estão. A evolução da política estará porventura na cedência ou abertura do modus a outras formas, como por exemplo, a de participação política dos agentes da sociedade, onde podemos ter como fonte a expressão dos E outro apontamento, que me parece relevante: 'Mas também parece claro que se essa maioria não for obtida, a crise política assentará definitivamente nos partidos, sem capacidade de exercer o poder. E desenrolar-se-á sofregamente pelos próximos anos cavaquistas. À semelhança do presidente, será uma fase de não-política, como se comprova por todos os que procuram a salvação, com governos nacionais, e uma linha restrita do exercício político em que querem confinar os partidos.' 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 4 | de 9
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A caraterização de não-política, que se abstém um pouco de querer caraterizar por agora o perfil político do presidente, entretém-se entre dois pontos: afastamento da onda política atual, com repercussão de instabilidade no seu retorno (a não-política precisa da política); e a contextualização personalista com o objetivo de criação de valor para o próprio. Podemos encarar a resposta de frente: a incapacidade de exercer o poder per si, que o presidente agora sugere, remetendo o governo para uma negociação orçamental na Assembleia da República, onde já dispõe de maioria, e que tem em vista restringir a contestação da oposição, e para que esta não saia do seu espaço minoritário que tem no parlamento, é um exemplo dessa criação de valor personalista. E que contribui para o enfraquecimento político, e do executivo. A grande questão que esta crise dá às próximas eleições, não é como é que a crise será resolvida, mas se as eleições, enquanto regeneradoras, estarão à altura para combater a crise. A perspetiva difere das análises comuns, porque o que poderá ficar em causa é a governabilidade do país. A 'clarificação' eleitoral pode levar ao cisma na democracia entre os que precisam de ver as coisas resolvidas e os que não as conseguem (porque não 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 5 | de 9
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Doutro modo, ou o governo que sai é maioritário, ou aportaremos num presidencialismo assumido. É preciso saber se o país está preparado para uma evolução na economia, seja em que A verificar-se a persistência da letargia, mais importante é saber se os políticos estão preparados para a tal evolução. Não estão. A evolução da política estará porventura na cedência ou abertura do modus a outras formas, como por exemplo, a de participação política dos agentes da sociedade, onde podemos ter como fonte a expressão dos indignados. Mas também parece claro que se essa maioria não for obtida, a crise política assentará definitivamente nos partidos, sem capacidade de exercer o poder. E desenrolar-se-á sofregamente pelos próximos anos cavaquistas. À semelhança do presidente, será uma fase de não-política, como se comprova por todos os que procuram a salvação, com governos nacionais, e uma linha restrita do exercício político em que querem confinar os partidos. A caraterização de não-política, que se abstém um pouco de querer caraterizar por agora o perfil político do Presidente, entretém-se entre dois pontos: afastamento da onda política atual, com repercussão de instabilidade no seu retorno (a não-política 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 6 | de 9
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precisa da política); e a contextualização personalista com o objetivo de criação de valor para o próprio. Podemos encarar a resposta de frente: a incapacidade de exercer o poder per si, que o presidente agora sugere, remetendo o governo para uma negociação orçamental na assembleia da república, onde já dispõe de maioria, e que tem em vista restringir a contestação da oposição, e para que esta não saia do seu espaço minoritário que tem no parlamento, é um exemplo dessa criação de valor personalista. E que contribui para o enfraquecimento político, Ora, este retrocesso político, a par do sistema que fragiliza e muito o poder executivo - aliás, como assistimos com este governo - será o motivo principal das 'grandes dificuldades que teremos nos próximos anos', como dizem. Quando o que realmente precisamos é de progressos políticos. Mas agora é tarde. O custo, que abafa a lei da otimização através do olhar político, é um deve e haver entre Por aqui, podemos vislumbrar que nenhuma é possível: não se promete esperança, como começou a fazer a direita, descomprometendo-se, parecendo mesmo que não quererá adiantar muito durante a campanha; e nem a confiança, ou a falta dela, porque já se conhece esse modo de governar, mas sem realidade, como se viu pela insensibilidade social dos planos apresentados pelo governo Parece, daqui, provável a tese: as eleições podem não ficar à altura da crise. 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 7 | de 9
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Partidos: poder e protesto
A primeira grande distinção, entre partidos, é a sua relação com o poder no sistema político. O partido de poder quer o poder. O de protesto só quer influenciá-lo, não querendo exercer o poder. Este, está contra o sistema, o 'estado das coisas', apresentando-se como 'de fora'. Pelo menos, não estando comprometido com a 'situação'. Aquele, institucionalizado, opera no sistema. Numa análise interna, o partido de protesto carateriza-se como uma organização pro-política, que, face à adesão facciosa que poderá obter, optará por institucionalizar-se ou não. Sobrevive com os interesses fracturantes, apoiando-se em tentativas de novas lógicas contra o pragmatismo existente. Formalmente, sem a sua institucionalização, sem se vincular ao sistema político, distingue-se de outras organizações pelos antecedentes ou motivos ideológicos. À luz dos diferentes poderes - o social, o económico…- o supra-poder é sempre político. Não é legítimo considerar que uma organização de forte implementação social tenha poder político. Se o tiver, estamos numa área pro- revolução ou revolta, pelo social, ou extinção do regime, pelo político. Mas neste ângulo, o campo político é um outro assunto. O que nos interessa agora é o Assim, também podemos concluir que um partido dominante, sem exercer o poder institucionalmente, ou mesmo politicamente, não é um partido do poder. Só o é, instituído o partido no regime, se aceitar que quer e tenta exercer o poder - utilizando os órgãos do Estado para tentar exercer a sua vontade. 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 8 | de 9
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PUBLICAÇÃO
DA SILVA LOPES, Jaime, Contra-ideias, crítica contemporânea 2011. Lisboa, 2011, disponível em http://www.dapolitica.com Pag. 9 | de 9

Source: http://dapolitica.com/docs/contra-ideias-2011.pdf

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The Bible and the Newspaper: What is Truth? Scripture lessons: John 14:1-6, 18:33-38 For decades, in sermons and articles I've commended to my congregations the instruction of the great theologian Karl Barth, that Christians must live with the Bible in one hand and the newspaper in the other. Only now I learn that he never said that, at least not in so many words. Scholars at the Princeton Th

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