Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007
Os Critérios de Noticiabilidade do Jornalismo Sulbaiano: Uma Análise dos Diários de Itabuna-BA 1
Este artigo busca averiguar os conceitos das Teorias do Jornalismo acerca dos critérios de noticiabilidade, a partir da seleção das manchetes publicadas no dia 29 de maio de 2007 pelos jornais impressos “Diário do Sul” e “Agora”. Ambos são os únicos periódicos diários do município de Itabuna - situado na região Sul da Bahia e com população aproximada de 200 mil habitantes. Com esse recorte, o objetivo do trabalho se fundamenta na análise discursiva de tais manchetes e na investigação da qualificação dos profissionais desses jornais diários Itabunenses, comparando esses aspectos com os modelos apresentados pelos teóricos da área. Destarte, esta comunicação compõe um escopo teórico direcionado ao levantamento da mídia impressa nessa região, iniciado em 2006. Palavras-chave: Análise Discursiva; Critérios de Noticiabilidade; Jornais Diários; Itabuna-Bahia; Teorias de Jornalismo. Introdução:
Penetra surdamente no reino das palavras.
Em busca de um estudo mais abrangente do Jornalismo da região sul da Bahia,
este trabalho tenta traçar um panorama discursivo-analítico de três produtos midiáticos
impressos do município de Itabuna. Os periódicos elucidados para esta pesquisa são: “A
Região”, “Agora” e “Diário do Sul”. No contexto da realidade de tal local, as
peculiaridades de cada um dos jornais os tornam tecnicamente díspares entre si.
1 Trabalho apresentado ao GT de Jornalismo do IX Congresso Regional de Ciências da Comunicação, orientado pela Prof. Msc. Sylvia Teixeira (UESC). 2 Graduando em Comunicação Social, habilitação em Rádio e Tv pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).
3 Graduando em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC). 4 Graduando em Comunicação Social, habilitação em Rádio e Tv pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). 5 Graduando em Comunicação Social, habilitação em Rádio e Tv pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). 6 Graduando em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC).
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O objetivo mais proeminente para a composição desta comunicação é
proporcionar um estudo dos veículos supracitados, de modo que haja uma
fundamentação teórica edificada em pensadores da Sociedade Contemporânea, do
Jornalismo e da Análise do Discurso. Assim, o artigo visa explanar as técnicas de
redação jornalística e de abordagem de conteúdo dos jornais itabunenses, comparando-
as com preceitos de teóricos deste campo do saber. Para tanto, é necessário entrar em
maiores detalhes sobre a funcionalidade conceitual do termo ‘Jornalismo’.
Como a Propaganda e as Relações Públicas, o Jornalismo é uma das ciências da Informação Coletiva ou da Comunicação Coletiva. As definições de Jornalismo são numerosas e variam de acordo com o enfoque de cada um. Ao assumir, porém, a condição de ciência, toma contornos acentuados e bem visíveis, e pode ser definido como “estudo do processo de transmissão de informação, através de veículos de difusão coletiva, com características específicas de atualidade, periodicidade e recepção coletiva”. (AMARAL: 2001, p, 16 – grifos do autor)
Como pressupõe Amaral (2001), o Jornalismo é uma corrente epistemológica de
tratamento coletivo da informação. Isto acaba por configurar a própria discussão sobre
qual seria o objeto de estudo do mesmo. Marques de Melo (1998), por exemplo, define
a informação como o composto básico de trabalho dos profissionais do jornalismo. Ao
passo que, para esse autor, a função do jornalista também é coletivizar informações. E
seguindo o mesmo viés dos dois teóricos, Traquina (2005) questiona os aspectos da
À luz das pontuações do pensador português, a construção da informação
jornalística passa pelo universo das discussões sobre como é montada a rede de
partículas-chave de uma máxima popular – a de que o Jornalismo seria o ‘Quarto Poder’
social. Além dessa máxima conceitual há, segundo o teórico, a organicidade do
‘Contra-Poder’ e do ‘Quarto do Poder’. Se a definição de ‘Quarto Poder’ dá a entender
que o Jornalismo está no mesmo patamar dos outros três poderes (Legislativo,
Executivo e Judiciário), que conjugam o regimento da sociedade democrática, à aura da
corrente político-governamental pós-Revolução Francesa, o ‘Contra-Poder’ é o embate
do Jornalismo para com os três outros poderes citados. É como se num front de guerra, e
os outros poderes tivessem que buscar espaço minando o Jornalismo, e vice-versa. Seria
como uma negociação constante entre um lado e outro nos ‘campos de batalha’ do seio
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Desse mesmo modo, a expressão ‘Quarto do Poder’ delega ao Jornalismo a
função de detentor maior da construção do poder. Diante dessa ótica, imagina-se, dentro
de um quarto fechado, a proliferação de um mecanismo capaz de realizar aspectos de
dominação social. E este mecanismo é o Jornalismo, que está no ‘quarto’ negociando e
renegociando o espaço de dominação com os outros poderes.
Para um recorte mais conciso e cirúrgico da abordagem principal deste trabalho, os
autores se propuseram a consolidar a pesquisa analisando as matérias que são
destacadas nas manchetes de cada periódico itabunense selecionado, tal qual buscar o
entendimento da construção lógica destas e das técnicas de redação utilizadas. O
objetivo do trabalho é mostrar as características mais incessantes do Jornalismo
itabunense, desde a maneira pela qual a notícia é constituída, adentrando o
questionamento sobre a qualificação da imprensa nesse eixo geográfico, ainda
também traçando um paralelo com os conceitos básicos da produção jornalística,
fundamentado em pesquisadores conceituados do Jornalismo nacional e
O artigo pode servir, além de tudo, como um verificador/fiscalizador da
imprensa itabunense, sendo que esta será comparada aos modelos de produção
jornalística em outras partes do país. Esta pesquisa se justifica no cerne da necessidade
de se mapear teoricamente a produção jornalística do município de Itabuna-Bahia,
quando se percebe que ocorre uma certa defasagem para com as produções acadêmicas
sobre jornais impressos em outras cidades do mesmo porte econômico e populacional.
Como muito pouco foi produzido, academicamente, sobre o discurso dos jornais
impressos itabunenses, este trabalho busca tratar de assuntos que poderão proporcionar
um avanço técnico dos produtos da mídia impressa da cidade.
Nos tópicos que seguem, serão postos em discussão as técnicas e os conceitos da
redação jornalística (no tópico 1); as inter-relações entre Jornalismo e Análise do
Discurso (no tópico 2); um apanhado sobre a construção histórica do Jornalismo
itabunense, colidindo nos fatores principais dos dias atuais (no tópico 3); uma
apresentação da análise comparativa do discurso e das técnicas redacionais jornalísticas
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de notícias dos jornais impressos Agora, A Região e Diário do Sul (no tópico 4); e uma
proposta de conclusão em cima das fases de pesquisa realizadas neste artigo.
Entre as Potencialidades Técnicas e Conceituais
A manchete é um mecanismo jornalístico expoente de um conteúdo de
importante veiculação para o meio, seja ele impresso ou audiovisual, de maneira que
sua profundidade será mostrada posteriormente numa notícia ou reportagem. O motivo
da relevância da manchete se configura na questão de ela necessariamente vir na
primeira página do veículo. Também, para os especialistas, é muito comum, num
panorama geral, que exista apenas uma manchete, quando o quesito é Jornalismo
No desencadeamento genérico em voga, a manchete vai chamar a atenção do
leitor para a notícia ou reportagem que estará em outra página do periódico. Na essência
da conjuntura da informação coletiva, primeiramente, então, é preciso compreender o
Na rotina produtiva diária das redações de todo o mundo, há um excesso de fatos que chegam ao conhecimento dos jornalistas. Mas apenas uma pequena parte deles é publicada ou veiculada. Ou seja, uma pequena parte vira notícia. O que pode levar qualquer leitor ou telespectador a perguntar: afinal, qual é o critério utilizado pelos profissionais da imprensa para escolherem os fatos que devem ou não virar notícia? (PENA: 2006, p. 71)
Pena (2006) prefere não conceituar objetivamente o que é notícia. Na verdade,
sabe-se que tal definição é bastante aberta, cheia de bifurcações. Entretanto, o autor
chega à conclusão de que entender o valor real da expressão ‘notícia’ proporciona uma
reflexão sobre a seleção dos fatos, de maneira que eles tornem ou não noticiáveis. Nesse
espectro ocorre a constituição dos chamados critérios de noticiabilidade, ou seja, os
valores empregados pelos jornalistas ou pelas empresas de comunicação na moldagem
E outros apêndices vão se definindo sobre o conceito de noticiabilidade. Por
exemplo, Lage (2001) relaciona a seleção dos fatos no Jornalismo à mercadologia da
qual as empresas são imputadas no campo da sociedade contemporânea, marcada por
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um capital de giro que movimenta as possibilidades de acesso às informações. Não
obstante, o teórico ainda questiona: “somos, afinal, irresponsáveis, meros agentes do
empregador, que pagará por nossos erros?” (LAGE, 2001, p. 103). Como foi
mencionado, o laço que atrela o profissional da notícia ao chefe ou o responsável-mor
da empresa jornalística acaba causando uma dualidade no que tange à deontologia dessa
A ética propicia um entreve entre ambas as partes. Como, afinal, atribuir a
responsabilidade de uma publicação que não dispõe de tanta veracidade? Charaudeau
As restrições relativas à posição das instâncias de comunicação e à captura do acontecimento dão instruções e impõem um modo de organização do discurso e um ordenamento temático. O sujeito informante (jornalista e instância midiática) está, pois, situado entre essas restrições.[.] Ele fica, ao mesmo tempo, preso e livre na encenação de seu discurso, como um diretor se acha ao mesmo tempo livre e preso na montagem de uma peça de teatro. (CHARAUDEAU, 2006, p. 129)
O paradoxo formado entre a pesagem de valores na modulação da ética,
perpassando pela seleção dos fatos, segundo Charaudeau (2006), cria uma
ambivalência. Os jornalistas estão inseridos na analogia da teatralização de sua
profissão. À aurora desse pressuposto, a dita liberdade deste profissional entra em
conflito, ao coletivizar informações, com as prioridades da empresa comunicacional
que, para sobreviver no competitivo mercado capitalista, tem a necessidade de
selecionar o que pode ou não ser veiculado em seu espaço informacional. Esse aspecto
deságua nos critérios de noticiabilidade.
De acordo com Chaparro (1994), a sistematização dos valores-notícia se dirige
basicamente pelo viés da ‘proximidade’ da ocorrência em relação à área de alcance do
veículo de informação; também é mister fazer menção ao princípio da ‘atualidade’, que
por sua vez, diferencia História e Jornalismo; a ‘notoriedade’ de quem está envolvido no
fato; a ‘curiosidade’ que o sucedido pode despertar no leitor; a(s) ‘conseqüência(s)’ que
o fato pode trazer para a comunidade; a ‘dramaticidade’ que um acontecimento pode
proporcionar; e a ‘surpresa’ que o leitor pode ter ao se deparar com o fato. Assim, se
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uma ocorrência estiver enquadrada nesses princípios ela tem maiores condições de ser
À luz de Erbolato (1991), no tocante aos aspectos dos valores-notícia,
acrescenta-se às definições de Chaparro (1994) os quesitos marco geográfico, impacto,
proeminência, aventura/conflito, conseqüências, humor, raridade, progresso, sexo e
idade, interesse pessoal, interesse humano, importância, rivalidade, utilidade, política
editorial, oportunidade, dinheiro, expectativa/suspense, originalidade, culto de heróis,
descobertas/invenções, repercussão, confidências.
Como pode ser percebido, o escopo teórico sobre a noticiabilidade é bem amplo.
É possível direcionar o caminho da seleção das notícias perante os valores supracitados.
E é na busca por uma conceituação mais firme que os pensadores do Jornalismo
contemporâneo tornam os critérios formulados pelos profissionais da comunicação e
pelos gerenciadores das respectivas empresas um prisma de informações ainda em
O Jornalismo é uma ciência bem recente. As pesquisas realizadas neste campo,
feitas no Brasil, datam desde a década de 1960 até os dias atuais. Porém, entende-se a
raiz deste campo do saber como um mecanismo a serviço da sociedade. Assim,
Jornalismo e sociedade, como pontua Amaral (2001), devem andar lado a lado,
contribuindo mutuamente para a coletivização de informações.
O Discurso Sendo Analisado
A confluência do discurso instado no Jornalismo enviesa pelos moldes
relacionados aos gêneros do mesmo. Na constituição das técnicas de redação
jornalística, vários são os fatores priorizados em detrimento de outros. Por assim dizer,
esta prática midiática, bem como a Publicidade e as Relações Públicas, é composta de
métodos empregados na formatação final do produto, tal qual determina a veiculação de
A análise do discurso jornalístico é um processo a ser realizado, particularmente,
de modo bem cuidadoso. Sobre esse aspecto, pontua Maingueneau:
Não basta dizer que “entre” as informações brutas e os jornais existe o mundo da imprensa[.] De fato, não se dispõe, inicialmente, das informações, dos escritores e dos cidadãos; a
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seguir, das instituições mediadores e, por fim, dos enunciados em circulação, mas tudo emerge ao mesmo tempo. A instituição “mediadora” não é secundária em relação a uma “realidade” que ela se contentaria em formular de acordo com certos códigos. (MAINGUENEAU, 1993, p. 54 – grifos do autor)
Existe no campo da Análise do Discurso, segundo Maingueneau (1993), uma
interação entre as mais diversas esferas públicas. Essa conexão permite a possibilidade
de decodificação do texto. É confrontando os preceitos da origem da Literatura com, por
exemplo, o surgimento das técnicas do Jornalismo e, por sua vez, fazendo um paralelo
com as contextualizações filosóficas sobre a escrita, que torna mais permissível o
entendimento do discurso em questão. Nesse bojo teórico entram também as correntes
de pensadores que edificam as relações analíticas textuais. Nomes como Bakhtin,
Jacobson, Ducrot e outros possibilitam essa prática de análise.
Foucault (1972) utiliza o termo ‘prática discursiva’ para designar o sistema
inserido no âmago de uma dada formação do discurso, a fim de controlar o pressuposto
de ocupação dentro de um determinado enunciado. Isto é, delimitar a atuação discursiva
dentro de um fragmento textual. Para Maingueneau (1993): “Durante muito tempo a AD
tomou como objeto os corpus por ela apreendidos independentemente dos atos de
enunciação que haviam tornado possíveis” (ibidem, p.29). A conjunção atual da Análise
de Discurso segue as possibilidades reais de onde e como o enunciado foi concebido e,
dessa forma, quais as conseqüências que ele traz para um espaço-tempo social.
Assim, percebe-se que a ‘prática discursiva’ dissertada por Foucault (1972) se
desenrola em outra elucubração do autor sobre a sociedade contemporânea, a de que
para poder controlar um todo, é preciso dividi-lo em partes. À luz dos princípios acerca
da ‘microfísica do poder’ (1969), este artigo visa entender os periódicos itabunenses
trazidos à análise como um todo. E as particularidades dele, ou seja, as que teriam maior
Da Concepção do Jornalismo Itabunense
Nos seus quase noventa anos de existência, Itabuna viu nascer e morrer uma lista imensa de jornais, revistas e documentários, como viu também aparecer jornalistas e
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“jornalistas”, que de uma forma ou de outra, ajudaram, e ainda ajudam, a contar a história desta terra. (AQUINO: 1999, p.23 – grifos do autor)
A região sul da Bahia, é bastante conhecida, em grande parte do mundo, quando
o quesito é Literatura. No que tange ao Jornalismo de Itabuna-Bahia, como ressalta
Aquino (1999), o nascimento e a morte de vários jornais impressos marcou a história
Vale salientar que um dos grandes problemas do Jornalismo itabunense foi, e
ainda é, a estrutura dos periódicos. Estrutura essa tanto financeira quanto profissional, o
que sempre contribuiu para a falência de muitos veículos. Desde a fundação do jornal
“A Platéia”, datada de 1897, segundo a pesquisa de Aquino (1999), até os dias atuais,
pelo menos 75 periódicos publicaram uma edição. Os conteúdos são os mais diversos,
como jornais dedicados especificamente à área de saúde; outros distribuídos para
freqüentadores de bares; jornais voltados para o público estudantil; jornais que
funcionaram como porta-vozes de um determinado político; informativos que
publicaram somente notícias relacionadas à economia regional, entre outros tipos de
veiculação. A periodicidade destes também é das mais diversas. Houve jornais que
circularam uma única vez, outros que tiveram publicação diária durante anos; sazonais,
semanais, mensais, quinzenais, e outras.
Em tempos hodiernos, a cidade de Itabuna-Bahia conta com quatro jornais
impressos (Tribuna do Cacau, Agora, A Região e Diário do Sul) e uma revista impressa
(Vitória). Ao longo das décadas, a história do Jornalismo regional se confundiu com a
dos escritores, advogados, médicos, professores que participavam do processo de
redação dos jornais. Até hoje, dentre os requisitos para exercer a profissão de jornalista
na cidade de Itabuna-Bahia, pouco esses têm a ver com a formação acadêmica
específica na ciência Jornalismo. Então, novamente a questão ética entra em debate.
Como atribuir a responsabilidade de uma notícia mal apurada a uma pessoa que está
exercendo uma função sem ter sido devidamente preparada?
Amaral (2001) defende a necessidade de um preparo profissional no que diz
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Falar sobre a necessidade de um preparo profissional para um jornalista é insistir sobre o óbvio[.] O que retardou a consolidação da idéia de que o Jornalismo se aprende estudando, e estudando muito, foi a existência de alguns talentos verdadeiramente brilhantes em meio a uma massa de mediocridade tão grande que, até hoje, faz com que se olhe a carreira com certa prevenção. (AMARAL, 2001, p.42 e 44 – grifos do autor)
Mediante a citação de Amaral (2001) pode-se perceber que a falta de jornalistas
graduados não é um fator que atinge somente a imprensa itabunense. Em todo o Brasil,
as inter-relações entre os mais variados campos profissionais com o Jornalismo
propõem a prática da redação nos jornais impressos sendo como um mecanismo
meramente metódico, repleto de regras de escrita e seleção de palavras. No entanto, os
especialistas da Comunicação atentam para o fato de que não é somente saber qual tipo
de linguagem e formatação dos jornais que alguém pode ser considerado um jornalista.
Antes de qualquer pressuposto, é preciso conhecer as penetrações do Jornalismo em
suas nuances éticas. E esse aspecto é o que melhor define o que é ser um jornalista.
As conseqüências da constituição da imprensa itabunense advêm de um conjunto
de fatores que permearam as interações entre a verdade factual e o relato dos fatos.
A deformidade existente na imprensa regional tem raízes profundas e ramificadas. A primeira delas vem da herança coronelista, que compreendia a imprensa como instrumento importante para a dominação do povo e implementação de projetos pessoais. Usando a força do dinheiro para dominar os meios de comunicação, terminavam por transformá-los em meros canais reprodutores de suas verdades próprias. Os fatos deixavam de ter qualquer importância nesse processo, importando mais a forma como seriam contados. (ALBUQUERQUE e ROCHA: 2002, p.12)
Baseado no que as autoras teorizam, mais vale no Jornalismo itabunense a
maneira como a notícia é transmitida do que os critérios de apuração, que são as hélices
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Segundo Aquino (1999), o jornal Agora foi fundado em 28 de julho de 1981,
mesmo dia em que a cidade de Itabuna completou 71 anos de emancipação política. O
autor, que também foi um dos fundadores do periódico, afirma que a escolha da data de
publicação da primeira edição ocorreu devido a motivos comerciais, uma vez que no
aniversário da cidade costumeiramente sempre houve edições de jornais que visavam
alcançar uma maior vendagem contando um pouco da história do município.
Com base na pesquisa do autor, a fundação do jornal A Região foi datada de 27
de abril de 1987. Desde então, o periódico sempre deu maior notoriedade à veiculação
de notícias relacionadas a um conteúdo com maior abertura para denúncias sociais e
políticas, sátiras, sensacionalismo, como pressupõe o autor.
O Diário do Sul é o mais novo dos jornais da cidade de Itabuna, de acordo com
Aquino (1999). Foi fundado em 4 de maio de 1999, quando havia na época apenas um
jornal diário: Tribuna do Cacau. Mas esse era de impressão tipográfica, enquanto que o
Diário do Sul viria para ser impresso em off-set, o que contribui para uma melhor
leitura. Nos dias atuais, o Agora também está sendo veiculado diariamente.
A Análise: do jornalismo ao discurso
Este artigo trabalha com base nas notícias provenientes das manchetes dos
jornais itabunenses supracitados. As edições dos três periódicos foram publicadas em 2
de dezembro de 2006. Nos moldes da seleção da análise, as prerrogativas comparadas
de acordo com os três jornais são duas: aspectos de redação jornalística e aspectos da
Os aspectos de redação jornalística foram, então, subdivididos em quatro pilares
(manchete, título, lead, corpo do texto e linguagem). Os aspectos da análise do discurso
das matérias são subdivididos em dois eixos, a da polifonia discursiva e os operadores
O primeiro jornal verificado é o “Agora”. A manchete deste publicou a seguinte
informação: “Vereador do PT assume Prefeitura de Conquista”. Já o “A Região”
publicou em sua manchete: “Prefeitos do sul da Bahia vão demitir 90 parentes”. O
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“Diário do Sul” veiculou duas manchetes: a primeira (“Viagra que não levanta
‘defunto’”); e a segunda: (“Venda de celular acaba em morte”).
A bem da ordem dos conceitos de gênero jornalístico, a manchete deve ser
compreendida como uma ferramenta de destaque do jornal, primeiramente, por vir na
primeira página do periódico; depois, por ser ela quem vai chamar a atenção do leitor
para a notícia ou reportagem mais relevante que seguirá no espaço interior do veículo. À
luz de Sousa (2002), ela tem a obrigação formal de ser concisa e objetiva. O texto é
composto de informações curtas e lógicas, possibilitando despertar o interesse do leitor
A manchete do Agora e as duas do Diário do Sul podem, sem dúvida, ser
enquadradas no valor conceitual do gênero. Em compensação, a manchete do jornal A Região apresenta um certo risco por estar fazendo uma previsão futura. Nesse caso, é
preciso que o fato seja ainda mais bem apurado para que, dias depois, caso não ocorra o
acontecimento, o jornal não venha a ser punido por veicular uma informação inverídica.
Da manchete chega-se à notícia. E o primeiro fator para análise dentro da notícia
é o título. O jornal Agora publicou em sua manchete que a notícia seria encontrada na
página 08. Contudo, ao abrir essa página, o leitor não tem a notícia da manchete
publicada. Ela consta, então, na página 11. Ou seja, esse erro na edição do Agora
analisada vai de encontro às discussões sobre ética e responsabilidade no Jornalismo
Mas, retomando a análise do título da notícia destacada pela manchete, na
publicação do Agora se tem: “Presidente da Câmara é o novo prefeito de Conquista”.
Segundo Garcia (2005), “é o anúncio da notícia, que provavelmente mais despertará
atenção. Como na boa propaganda, é proibido a esse anúncio prometer mais do que a
matéria realmente contém.” (idem, p.51). Assim, o Agora, apresentando um título bem
objetivo, consegue cumprir na matéria a informação que promete no título.
No que diz respeito ao A Região há uma questão inusitada, pois o título é
emendado com o lead. Portanto, deve-se considerar título e lead de uma forma única.
Então, a análise separada dos dois fica prejudicada. Quando o lead for conceituado, o
título-lead do A Região será analisado.
O título do jornal Diário do Sul é “Fiscais da Prefeitura apreendem “Viagra”
falso em Itabuna”, que, primeiramente, pode ser percebida a presença desnecessária de
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palavras. Não há motivos técnicos para que os ‘ficais da Prefeitura’ sejam mencionados,
mesmo porque eles não podem ser considerados pessoas notórias no espaço social,
como pro exemplo, se quem apreendesse o “Viagra” falso fosse o Prefeito, presidente
da Câmara de vereadores, ou um artista regional. O nome ou profissão de quem
apreendeu o “Viagra” deveria vir posteriormente no lead. Com a proposta de
reconstrução do título, poderia ser assim: Viagra falso é apreendido em Itabuna.
O título da outra notícia do “Diário do Sul” destacada em manchete é “Morto a
tiros depois de fazer uma cobrança”. Ou seja, não existe uma atribuição objetiva a quem
foi morto a tiros, e o uso da palavra “cobrança” torna-se ambíguo, pois há socialmente
várias formas sentidos para a mesma. Além disso, não é necessário dizer como a pessoa
foi morta, sendo essa uma função do lead. Com a proposta de reconstrução, de acordo
com os preceitos dos teóricos, o título poderia ser o seguinte: Carregador de caminhões
Sobre o lead, Pena (2006) acentua: “o lead (ou lide) nada mais é do que o relato
sintético do acontecimento logo no começo do texto, respondendo às perguntas básicas
do leitor: o quê, quem, como, onde, quando e por quê.” (ibidem, p. 42). De retorno ao
título-lead da noticia do A Região: “Prefeitos do sul da Bahia vão demitir 90 parentes –
segundo levantamento preliminar feito pelas Câmaras de Vereadores de 40 municípios,
a pedido da reportagem de A Região.” É possível visualizar que o título-lead do jornal
não consegue responder aos questionamentos básicos do leitor, que deveriam ser
respondidos no lead, como argumenta Pena (2006).
O lead do Agora peca por não atender ao princípio de sintetismo proposto por
Pena (2006). Afora as respostas as seis perguntas-chave do qualquer bom lead, ele se
aprofunda ao explicar conseqüências do fato. Na verdade, isso deveria vir no corpo do
texto. O lead da primeira notícia analisada do “Diário do Sul” preza pelo mesmo
defeito. É muito extenso, prejudicando a leitura e tirando o potencial de surpresa que o
lead faz para desencadear a possibilidade do leitor se interessar em continuar lendo o
texto. Já o segundo lead é adequado à veiculação, pois consegue responder às perguntas
básicas de qualquer leito, além de deixar em aberto, para o corpo do texto, as
Segundo Garcia (2005), o corpo do texto deve estar relacionado a três princípios:
exatidão, clareza e concisão. Assim, o leitor poderá mais facilmente dispor de
informações verdadeiras e apuradas, entendendo o que lê, não desperdiçando nem o
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tempo dele (conceito de dinâmica da sociedade contemporânea) e nem o espaço do
jornal. Comparando as quatro notícias recortadas para análise dos três jornais, qualifica-
se as mesmas dentro do processo de constituição de um adequado corpo de texto,
segundo o pensamento de Garcia (2005). “Agora”, “A Região” e “Diário do Sul”
apresentam os requisitos de clareza e concisão, embora o princípio da exatidão ser por
vezes prejudicado no processo de construção do texto. É o que especialistas chamam de
Para Garcia (2005), os pré-requisitos da boa linguagem textual estão
relacionados à originalidade, à descrição do ambiente e da situação, dose de ironia
moderada, referências históricas e literárias e palavras acessíveis às mais variadas
formações culturais. Os três periódicos em debate, quando analisados sob a perspectiva
da linguagem, se perdem algumas vezes na utilização inadequada de termos eruditos ou
próprios de uma determinada área, jurídica ou policial, por exemplo.
Fazendo um corte epistemológico para a abordagem sobre os aspectos
discursivos das notícias, edifica-se a análise sob a ótica da Polifonia e dos Operadores
Argumentativos. No que toca à Polifonia, os conceitos a serem trabalhados são os de
enunciação e locução textual, enquanto que sobre os Operadores Argumentativos serão
analisados os recursos de argumento da autoridade, argumento com base no raciocínio
lógico e argumento de competência lingüística.
Segundo Maingueneau (1993): “Por locutor entende-se um ser que no enunciado
é apresentado como seu responsável” (p. 29). E, à luz do autor, a representação do
enunciador se dá por serem eles “seres cujas vozes estão presentes na enunciação sem
que lhes possa, entretanto, atribuir palavras precisas.” No contexto da Polifonia, as
relações entre locutor e enunciador se enlaçam, mas são bem características. Na análise
comparativa dos três jornais, é visto que os mesmos representam a função de locutores
da notícia, pois chancelam a veiculação dos periódicos. É, assim, a assinatura final do
texto. Entretanto, não há em nenhuma das quatro matérias jornalísticas um enunciador,
isto é, um jornalista responsável por assinar o texto, fazendo uma mediação entre o
jornal e o público. Esse fato acontece, muito provavelmente, devido aos redatores não
serem jornalistas habilitados por um título de graduação.
A atribuição da cunhagem do termo ‘Operadores Argumentativos’ é feita a
Oswald Ducrot. Estes, por sua vez, representam o potencial argumentativo dos
enunciados, mostrando a semia (sentido) que eles propõem. Com relação aos
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argumentos da autoridade, ou seja, aqueles indivíduos que são citados pelos
enunciadores da notícia (no caso do Jornalismo) por serem referências no tema
respectivo à notícia. Nessa questão, nos periódicos em análise é perceptível que há uma
satisfatória utilização das fontes, das pessoas citadas – testemunhas ou não – no fato.
No tocante à argumentação baseada no raciocínio lógico – conceitualmente, o
uso de termos compostos de coesão e coerência de idéias – as notícias dos jornais
itabunenses respondem desordenadamente a esse quesito. Ou seja, não há uma
apresentação corrente do pensamento inicial factualizado pelo locutor, caindo por si em
outras nuances durante o corpo do texto. Resumidamente, é afirmar que as notícias não
apresentadas, de forma total, coesa e coerentemente em todo o texto.
O argumento de competência lingüística é mais ou menos a mesma adequação
conceitual ao princípio jornalístico de linguagem. No Jornalismo, os termos têm a
prática obrigação de serem redigidos de acordo a um vocabulário claro, de modo que
consiga atingir o público leitor de uma maneira abrangente. As notícias analisadas do
“Agora”, “A Região” e do “Diário do Sul” são compostas de pelo menos um termo que
não está adequado ao formato jornalístico de linguagem coloquial. Nas quatro matérias,
existe expressão(ões) que estão ligadas a um conceito de erudição vocabular.
Para finalizar este tópico, é importante salientar que as análises feitas sobre as
quatro notícias dos quatro periódicos supracitados não podem definir, de maneira
generalista, o formato de redação e a utilização discursiva dos veículos. Porém, os
textos selecionados dão uma visão panorâmica do que é produzido no jornalismo
Uma Possível Conclusão?
Não. Os autores deste trabalho chegaram à conclusão de que não é possível nem
justo fechar os resultados desta pesquisa como um escopo finalizado, sem futuras
reflexões, questionamentos ou contestações. O artigo está aberto a um diálogo sobre as
perspectivas do Jornalismo da cidade de Itabuna-Bahia.
Em torno dos conceitos apresentados sobre as técnicas de Jornalismo e suas
definições conceituais, foi visto que os periódicos itabunenses ainda precisam fazer
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reformulações no quadro profissional e estrutural, para atender às necessidades de
melhoria acerca desses aspectos. Por esse mesmo caminho, as questões direcionadas à
Ética também poderão ser mais bem constituídas quando a maior parcela dos jornalistas
esteja, de fato, preparada para o exercício da profissão, sendo ou não composta de
indivíduos advindos das bancas acadêmicas.
Se a Deontologia é um valor a ser acentuado nessa conjunção, sobressalta-se
também a modalidade discursiva presente nos periódicos, que precisa ser cuidada de
uma forma mais eficiente pelos locutores (veículos) do município, para que em um
curto espaço temporal eles não se encontrem distantes do contexto nacional na mesma
Por fim, entende-se que os jornais “Agora”, “A região” e “Diário do Sul” talvez
não estejam num patamar um tanto distante dos produtos midiáticos impressos de outros
centros de mesmo alcance quantitativo e qualitativo de leitores. Mas, é preciso que se
faça menção ao caráter de que há ainda muito a ser aperfeiçoado na técnica redacional,
no uso discursivo-lingüístico e nas relações comunitárias e éticas a que recorrem os
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