Comparação antropométrica e do perfil glicêmico de idososdiabéticos praticantes de atividade física regular e não praticantes
Anthropometric comparison and the glycemic profile in elderly diabetics practitioners and non-practitioners of regular physical activity
ResumoO objetivo do estudo foi comparar os parâmetros antropométricos e perfil glicêmicode idosos diabéticos tipo 2 praticantes de atividade física regular e não praticantes. Métodos: O estudo, do tipo transversal, envolveu 70 idosos com diabetes mellitustipo 2, com idade entre 60 e 80 anos. A coleta de dados foi através de questionárioestruturado abordando: a) características demográficas dos pacientes (idade e nível
Palavras-chave: Idoso.
de escolaridade) e b) características do padrão de atividade física (frequência,
duração (min) e tempo (meses) da prática de exercícios físicos). Foram realizadas
medidas antropométricas e verificação do perfil glicêmico (glico-hemoglobina).
Os dados foram analisados no programa STATA versão 9.0. Foram calculados a
média e desvio padrão da média (DP) e realizado o teste de análise de variância
(ANOVA). Para verificar a associação de variáveis qualitativas, utilizou-se o teste
exato de Fisher e as associações entre as variáveis quantitativas foram estimadas
através do coeficiente de correlação de Pearson, com uma confiança de 95%. O
nível de significância foi de p<0,05. Resultados: Em relação ao nível deescolaridade, não houve influência na realização da prática de atividade física. Nos PAF observa-se uma diminuição do IMC e do perfil glicêmico, quandocomparados aos NPAF. A caminhada foi a atividade física mais realizada pelosidosos (51,5%). A partir dos resultados obtidos na análise dos dados, foi possívelmostrar os benefícios que a atividade física proporciona aos indivíduos no processode envelhecimento e no bom controle glicêmico.
Universidade de Fortaleza. Departamento de Educação Física. Fortaleza, CE, Brasil
Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Departamento de ClínicaMédica – Endocrinologia. Ribeirão Preto, SP, Brasil
Universidade do Porto. Pós-graduação em Treino de Alto Rendimento Desportivo. Porto, Portugal.
Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina, Departamento de Educação Física. Fortaleza, CE, Brasil
Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Comunitária. Fortaleza, CE, Brasil
Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina, Serviço de Endocrinologia e Diabetes doHospital Universitário Walter Cantídio. Fortaleza, CE, Brasil
REV. BRAS. GERIATRIA E GERONTOLOGIA; 2006; 8(1); 9-20
Correspondência / CorrespondenceLuciana Zaranza MonteiroRua General Osório, 859/2214010-000 - Ribeirão Preto, SP, BrasilE-mail: [email protected]
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AbstractThis study aimed to compare the anthropometric parameters and plasma glucosein elderly with type 2 diabetes who practice regular physical activity or not. Methods: The cross-sectional study comprised 70 elderly people with type 2diabetes mellitus (DM2), aged between 60 and 80 years. Data collection was through
Key words: Aged.
a structured questionnaire: a) demographic characteristics of patients (age and
level of schooling) and b) characteristics of the pattern of physical activity
(frequency, duration (min) and time (months) the practice of physical exercise).
Anthropometric measurements were taken and verification of plasma glucose
(glyco-hemoglobin). The data were analyzed in the program STATA version 9.0.
The data was analyzed using mean and standard deviation of the mean (SD), and
Study. Period Analysis. Physical Activity.
analysis of variance (ANOVA); to determine the combination of qualitativevariables, it was used the Fisher exact test and associations between quantitativevariables were estimated by the coefficient of Pearson’s correlation, with 95%confidence. The level of significance was p<0.05. Results: Concerning educationlevel, there was no influence on the attainment of physical activity. In PAF thereis a decrease of IMC and plasma glucose as compared to NPAF. The walk was themost physical activity undertaken by the elderly (51.5%). The results obtained inthe analysis of data made it possible to show the benefits that physical activitygives individuals in the aging process and in good glycemic control.
(sentimento de velhice, estresse, depressão), existeainda diminuição maior da atividade física, que
A população brasileira vem envelhecendo de
consequentemente facilita a aparição de doenças
forma rápida desde o início da década de 19601 e,
crônicas, contribuindo para deteriorar o processo
de acordo com as projeções estatísticas da
de envelhecimento.8 A incidência dessas doenças é
Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano
alta nos indivíduos idosos e o risco de desenvolvê-
de 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com
los ou de torná-las mais graves, levando a
incapacidades, deve ser identificado precocemente.
Segundo Alves & Veras,6 neste período a
população brasileira como um todo estará
aumentando é o diabetes do tipo 2, sendo
crescendo cinco vezes mais, enquanto o grupo
um fator de risco maior para morte e várias
etário de idade superior a 60 anos estará se
complicações não fatais que acarretarão um
grande impacto aos pacientes, seus familiarese sistemas de saúde. Estudos têm demonstrado
O processo de envelhecimento físico, mental e
social acarreta alterações corporais que são
efetivamente prevenida por modificações no
importantes de serem avaliadas em um plano
De acordo com o Censo Populacional de 2000,
diabetes se tornou uma epidemia nas últimas
os brasileiros com 60 anos ou mais já somam
décadas, devido não só ao avanço na idade das
14.536.029 indivíduos, representando 8,6% da
populações, mas também a um substancial
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população total.7 À medida que aumenta a idade
aumento na prevalência de obesidade e à
cronológica, as pessoas se tornam menos ativas,
diminuição nos níveis de atividade física, ambos
as capacidades físicas diminuem e, com as
passíveis de serem atribuídos ao estilo de vida
alterações psicológicas que acompanham a idade
de atividade física regular e 35 não praticantes de
indivíduos entre 30 e 75 anos de idade foi estimada
em 4,2%, sendo que aproximadamente 70% estavamem uso de hipoglicemiantes orais ou insulina.11
Para realizar a coleta de dados, utilizaram-se os
seguintes protocolos: medidas antropométricas e
Sedentários apresentam maior ocorrência de
verificação do perfil glicêmico (glico-hemoglobina).
diabetes e obesidade do que indivíduos que fazem
Os parâmetros antropométricos avaliados foram:
atividade física.12 Esta última se associa
peso, estatura e Índice de Massa Corporal.
significativamente com a redução da prevalênciade diabetes tipo 2 e suas morbidades associadas.13,14
Peso (Kg) - Para efetuar a pesagem, foi
utilizada uma balança digital portátil Tec 130 da
A atividade física exerce efeito benéfico na
marca Tech Line® Brasil. Procedimento: o avaliado
tolerância à glicose. A caminhada parece ser um
ficava em pé e descalço com afastamento lateral
modo conveniente de atividade física de baixo
dos pés, ereto com o olhar fixo à frente. Verificou-
diabéticos.15 No entanto, várias formas de atividade
física, contanto que praticadas com regularidade epersistência, aumentam o fluxo sanguíneo cutâneo,
Estatura (cm) - Material: para a mensuração
permitindo a prevenção e a reversão de transtornos
da estatura foi utilizada uma fita métrica graduada
vasculares que resultam em úlceras e outras
em centímetros e décimo de centímetros fixada à
parede e um cursor. Procedimento: o avaliadopermanecia na posição anatômica, com os pés
Nesse contexto, este estudo buscou comparar
os parâmetros antropométricos e perfil glicêmico
instrumento de medida as superfícies posteriores
de idosos diabéticos tipo 2 praticantes de
do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e
atividade física regular (PAF) e não praticantes
região occipital. A medida foi realizada com o
indivíduo em apneia inspiratória e com a cabeçaparalela ao solo, feita com o cursor em ângulo de90º em relação à escala. O avaliado foi orientado
para não se encolher no momento em que o cursorlhe tocasse a cabeça.
Estudo descritivo, transversal e quantitativo,
realizado com idosos diabéticos residentes na
Índice de Massa Corporal (IMC) - O IMC
cidade de Fortaleza, CE. A população desta
determina a relação do peso corporal com a
pesquisa foi composta por idosos voluntários,
estatura do indivíduo. É calculado através da razão
física e mentalmente independentes, entre 60 e
entre o peso (em kg) e a estatura ao quadrado (em
80 anos de idade, portadores de DM2, de ambos
os sexos, atendidos no Serviço de Endocrinologiae Diabetes, da Universidade Federal do Ceará
Para a verificação do perfil glicêmico, foi
realizada uma medida da glico-hemoglobina(Hb ), de amostra sanguínea coletada em um
período não superior a dois meses do momento
comprometimento de memória que prejudicasse
da avaliação e uma medida de glicemia capilar em
as informações a serem investigadas, com
jejum. A determinação da glico-hemoglobina
participação voluntária e com assinatura ou
(Hb ) foi realizada no Laboratório Central, do
impressão digital em Termo de Consentimento
SED-UFC, num mesmo ensaio, utilizando-se Kit
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Livre e Esclarecido, após orientação quanto aos
da In Vitro Diagnóstica Ltda. De acordo com a
objetivos e procedimentos da pesquisa. A amostra
Sociedade Brasileira de Diabetes17, os valores de
foi composta por 70 idosos, sendo 35 praticantes
referência de normalidade são ≤ 7%.
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Após as avaliações antropométricas e glicêmicas,
Foram respeitados os princípios éticos e legais,
os participantes responderam a um questionário
de acordo com as recomendações da Resolução
estruturado abordando: a) características
CONEP n.º 196/9619. O projeto foi submetido
demográficas dos pacientes (idade e nível de
e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
escolaridade); e b) características do padrão de
de Fortaleza – UNIFOR (Parecer nº 129/2004).
atividade física (frequência, duração (min) e tempo(meses) da prática de exercícios físicos).
Os questionários foram aplicados em forma
Foram avaliados 70 idosos com DM2, dos quais
treinada, composta por entrevistadores com nível
68,6% (N=48) eram do sexo feminino e 31,4% (N=22)
de escolaridade superior e com experiência prévia
do sexo masculino. Embora não haja diferença de
de trabalho de campo. A coleta de dados foi
gênero em termos de prevalência do diabetes, a amostra
avaliada teve a predominância de idosos do sexo
esperavam para serem atendidos pelo médico
feminino, o que pode refletir a maior longevidade das
mulheres em relação aos homens. Segundo CoelhoFilho,20 este fenômeno se atribui à menor exposição a
determinados fatores de risco, principalmente no
STATA versão 9.0, 200318. Foram calculados a média
trabalho, menor prevalência de tabagismo e uso de
e desvio padrão da média (DP) e realizado o teste de
álcool, diferenças quanto à atitude em relação a doenças
análise de variância (ANOVA). Para verificar a
e incapacidades e maior frequência do sexo feminino
associação de variáveis qualitativas, utilizou-se o teste
exato de Fisher e as associações entre as variáveisquantitativas foram estimadas através do coeficiente
de correlação de Pearson, com uma confiança de
escolaridade não influenciou na realização da
95%. O nível de significância foi de p<0,05. Tabela 1 - Frequência (% linha) e resultado do teste exato de Fisher para as variáveis “Prática de atividade Física” e “Escolaridade”. Fortaleza, CE. 2008.
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A tabela 2 mostra a comparação entre a idade,
PAF observa-se uma diminuição do IMC e do
IMC e perfil glicêmico dos PAF e NPAF. Nos
perfil glicêmico quando comparados aos NPAF. Tabela 2 - Comparação entre idade, IMC e perfil glicêmico dos PAF e NPAF. Fortaleza, CE. 2008.
N a t a b e l a 3 , o b s e r va - s e o t i p o,
que os idosos diabéticos praticavam alguma
frequência, duração (min) e o tempo (meses)
Tabela 3 - Tipo, frequência, duração e tempo que os idosos diabéticos praticam atividade física.
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A caminhada foi a atividade física mais realizada
pelos idosos (51,5%), a maioria dos idosos realiza
NPAF, observamos que aqueles que praticavam
atividade física pelo menos três vezes na semana (65,7%),
atividade física apresentaram uma diminuição do
a sessão de exercícios diária durava 15 a 30 minutos
IMC, se comparados àqueles que não faziam
(80%) e o tempo de prática foi de 1 a 10 meses (68,5%).
nenhuma atividade física (tabela 4). Tabela 4 - Comparação de médias de IMC entre os PAF e NPAF. Fortaleza, CE. 2008.
A tabela 5 mostra a comparação das médias
se que os PAF apresentaram um perfil glicêmico
do perfil glicêmico entre os PAF e NPAF; notou-
Tabela 5 - Comparação de médias do perfil glicêmico entre os PAF e NPAF.
crescente nas últimas décadas, mesmo entre aspessoas idosas.23 Estima-se que entre 80% e 90%
No presente estudo, observou-se um número
dos indivíduos acometidos pelo DM tipo 2 são
maior de participantes do sexo feminino, o que
comprova o fenômeno de feminização doprocesso do envelhecimento, conforme apontam
Nesta pesquisa se observou, pela avaliação
Freire & Tavares.21 A feminização vem ocorrendo
antropométrica, que os pacientes apresentavam
desde o final da década de 80, mas há muito tempo
excesso de peso, confirmando dados de outros
tem sido superior, no país, o número absoluto de
mulheres idosas, quando comparado ao de homens
sobrepeso estão presentes na maioria dos pacientes
idosos. Segundo dados da última Pesquisa
Nacional de Amostra por Domicílios, entre osidosos o percentual feminino vem aumentando
É importante salientar que a permanência de
lentamente: em 1981, com 52,6%; em 1999, com
níveis glicêmicos elevados relaciona-se com sérias
55,3%; e em 2004, com 56,1% de mulheres idosas.22
complicações crônicas de alta prevalência empacientes DM2.
Sobre as variáveis antropométricas, verificamos
Estudo realizado por Van et al.28 identificou a
sobrepeso e perfil glicêmico acima do normal.
associação entre inadequados perfis lipídicos e
níveis glicêmicos de jejum mais elevados com a
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encontravam-se em melhor condição.
presença de excesso de peso e/ou adiposidadecentral, evidenciando a necessidade de intervenção
O excesso de peso atinge cerca de um terço da
imediata em pacientes DM2 com excesso de peso
população adulta e tem apresentado tendência
ou adiposidade central para melhor controle
modo de atenuar e reverter a perda de massa
muscular, contribuindo para preservar aautonomia funcional e o envelhecimento saudável.31
Um estudo dinamarquês demonstrou que, nos
anos de 1996 e 1997, a prevalência de diabetes foi de
12,3% em homens e 6,8% em mulheres com 60 ou
Leung, Paffenbarger32 têm mostrado que a prática
mais anos de idade. Comparando dados da mesma
de atividade física por pacientes com DM2 é
população obtidos em 1974 e 1975, o aumento do
importante para o aumento da sensibilidade à
número de casos foi de 58% para os homens e 21%
insulina. Afirmam ainda que a prática de
para as mulheres. Um concomitante aumento no IMC,
atividade física pode prevenir o aparecimento
no mesmo período, explicaria o aumento na prevalência
desta doença em pessoas que tenham um risco
de diabetes.29 É interessante observar a estimativa de
que 30% a 60% dos indivíduos com esta doença, nacomunidade, estejam sem o diagnóstico.26
Em relação à prática de atividade física,
observamos que aqueles que a praticavamregularmente apresentavam um nível de glicêmicomelhor do que os idosos que não praticam
A partir dos resultados obtidos na análise dos
dados, foi possível mostrar os benefícios que aatividade física proporciona aos indivíduos no
Tideiksaar30 apresenta resultados de uma meta-
análise ao citar inúmeras pesquisas internacionais,mostrando a importância de programas de
Na análise dos resultados obtidos, podemos
condicionamento físico e de reabilitação, tanto para
concluir que a atividade física proporcionou uma
idosos que vivem na comunidade quanto para aqueles
diminuição nas variáveis antropométricas e no
institucionalizados. Os resultados mostram a eficácia
perfil glicêmico dos idosos diabéticos praticantes
desses programas em melhorar a capacidade funcional,
a mobilidade e a independência dos idosos.
A atividade física regular vem sendo considerada
minimizar o desenvolvimento precoce de doenças
uma forma de manutenção da aptidão física em
crônicas, possibilitando uma longevidade com
indivíduos idosos, citada na literatura como um
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80 REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., RIO DE JANEIRO, 2010; 13(1):73-81
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